Fábio Zanini
Repórter especial do jornal Folha de S. Paulo, especializada na cobertura da ala direita brasileira. autor do blog Saída Pela Direita.
Com uma área de apenas 15 km2 e o maior índice de desenvolvimento humano entre todos os 5.570 municípios brasileiros, São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, é uma ilha da direita numa região que é o berço do maior partido de esquerda do Brasil, o PT.
Ali perto, na vizinha São Bernardo do Campo, o então líder metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva comandou greves históricas que aceleraram a fase final da ditadura militar, no final da década de 1970.
Mas a pequena e próspera São Caetano sempre teve um indisfarçável pendor para o conservadorismo. No início de outubro de 2020, seus moradores ganharam um presente do governo de Jair Bolsonaro, que teve na cidade 75% dos votos na eleição de 2018.
A cidade agora sedia a primeira loja de armas do Brasil autorizada a vender para pessoas comuns fuzis que eram usados apenas pelas Forças Armadas. É resultado de uma mudança de critérios de acesso a armas determinada pelo governo federal, que facilitou a obtenção de equipamentos de calibres que antes eram restritos. Desde a liberação da venda de armas pesadas, a procura na Isaloja para obter um Para-Fal, arma padrão do Exército, tem sido intensa.
“As pessoas querem ter uma arma em casa para sua proteção. O brasileiro tem de ter direito a isso. Você não pode ser tutelado, o Estado não pode decidir o que você quer fazer”, diz Charles Blagitz, um dos responsáveis pela loja.
Ampliar o acesso ao armamento é uma das bandeiras da revolução conservadora deflagrada por Bolsonaro ao ser eleito.
Mantê-la energizada será fundamental para suas chances de reeleição dentro de dois anos.
Apesar dos desgastes que o governo Bolsonaro enfrenta, sobretudo em razão da má condução da pandemia e das acusações de corrupção que atingiram filhos do presidente, seu discurso conservador ainda empolga grande parcela da sociedade.
Na mesma São Caetano, Giovani Falcone, de 40 anos, é um dos novos ativistas que decidiram apostar no presidente. Não faz muito tempo, ele se dedicava apenas ao setor privado, tendo seguido carreira como executivo em uma das maiores empreiteiras do país. O risco de o Brasil “se transformar em uma Cuba, ou uma Venezuela”, afirma, o fez abraçar o ativismo. Falcone é um dos líderes de um dos inúmeros novos movimentos engajados na defesa de pautas conservadoras que surgiram pelo país nos últimos anos.
“Sou Deus, pátria e família. Sou a favor da liberdade de expressão e da economia, e também do armamentismo para o cidadão de bem”, afirma ele. O movimento que ele integra começou com apenas 6 pessoas no final de 2018, e hoje tem cerca de 250. Seu apoio a Bolsonaro, diz Falcone, é incondicional. “Ele fez voltar o patriotismo, que estava esquecido. Quando eu estava na escola, a gente cantava o hino nacional, respeitava a bandeira. E depois isso tudo foi morrendo, até que virou uma vergonha ser nacionalista", afirma.
O passado
Falcone nasceu em 1980, durante o regime militar, período ao qual a direita brasileira está inevitavelmente conectada. Em 1964, com a Guerra Fria no auge e a Revolução Cubana ainda fresca na memória e exercendo grande poder de fascínio sobre a esquerda latino-americana, a guinada populista do presidente brasileiro João Goulart assustava setores da classe média conservadora brasileira, do empresariado, imprensa e grandes proprietários de terras.
A defesa por parte de Goulart de reformas de base beneficiando trabalhadores, no campo e na cidade, despertou no imaginário de grande parte das classes política, empresarial e militar a visão de um perigoso comunista. O presidente seria alguém que colocaria o Brasil firmemente na órbita da União Soviética, como uma versão anabolizada do regime cubano.
Esse suposto flerte com o comunismo justificou a tomada do poder capitaneada por militares, que prometiam uma participação transitória na vida nacional, apenas pelo tempo suficiente para evitar uma revolução marxista. Acabaram ficando 21 anos no poder.
Historiadores hoje são praticamente unânimes em dizer que a suposta guinada vermelha do presidente nunca foi uma ameaça real, e que ele nunca teve simpatias pelo comunismo. Mas o pretexto serviu bem ao objetivo dos militares de tomarem o poder.
Quando Falcone nasceu, o regime estava entrando em seu período final. Cinco anos mais tarde, o último general-presidente, João Batista Figueiredo, transferia o poder ao civil José Sarney. Ele entregava um país muito diferente do que os militares haviam assumido 21 anos antes.
Embora os generais tenham sido responsáveis por um período de forte crescimento econômico no início dos anos 1970, a imagem que ficou foi de um regime responsável pela morte ou desaparecimento de mais de 400 pessoas, além do aumento da desigualdade social.
O Brasil industrializou-se e construiu grandes obras de infraestrutura, como a usina hidrelétrica de Itaipu, na divisa com o Paraguai, a maior ponte do mundo, ligando o Rio de Janeiro à vizinha cidade de Niterói, e diversas rodovias gigantescas, que desbravaram o vasto interior do país.
Talvez o maior símbolo dessa megalomania seja a Transamazônica, imensa estrada de mais de 4.000 km de extensão atravessando a maior floresta do planeta. Ela nunca foi concluída, e os trecho que foram feitos tiveram como resultado grande aumento no desmatamento e a morte de milhares de indígenas da região.
Os militares também iniciaram um ambicioso programa nuclear, na região de Angra dos Reis, que foi apenas parcialmente implementado. Projetos como esses geraram forte endividamento público, escândalos de corrupção e o agigantamento de empreiteiras, que nas décadas seguintes passariam a corromper a política.
Mas o legado da ditadura militar foi além desse lado mais visível. Além da perseguição, assassinato de tortura de opositores, uma máquina de censura foi montada, com efeitos sobre a imprensa, cinema, teatro, música e literatura.
A engrenagem oficial de propaganda ufanista e patriotismo exacerbado apresentava a imagem do “Brasil grande” e reforça o dever da população de contribuir para o crescimento do país, com ordem e sem contestações populares. “Brasil, ame-o ou deixe-o”, era o slogan sutilmente ameaçador do governo.
Quando a ditadura entrou em crise, abalada por suas contradições internas, pela inflação acelerada e pelo crescimento da sociedade civil, a aventura militar havia gerado um profundo sentimento de desgaste para a direita brasileira.
A falência do modelo autoritário colocou em pauta a criação de uma nova Constituição, aprovada pelo Congresso Nacional em 1988. Como um filho que sai de casa e quer distância dos hábitos e pensamentos do pai, a Carta Magna aprovada destacou-se por radicalizar nas liberdades que haviam sido negadas pelos militares durante mais de duas décadas.
Chamada de “Constituição cidadã”, foi elogiada na época por prever a garantia de uma ampla gama de direitos sociais para os brasileiros. Ao longo dos anos, no entanto, passou a ser criticada por amplos setores, sobretudo na direita, por ter engessado o crescimento econômico e não ter dado ênfase a deveres e responsabilidades que viabilizariam esses direitos.
Por décadas, o legado da ditadura militar restringiu o apelo eleitoral da direita. Candidatos que se definiam como conservadores eram frequentemente irrelevantes nas urnas. O próprio uso do termo “direita” era evitado por muitos deles.
A mudança no cenário veio com a crise dos governos de esquerda, que estiveram no poder no Brasil entre 2003 e 2016. Acusações de corrupção e uma profunda recessão levaram a protestos de rua que energizaram uma base social de direita adormecida.
Um sinal dessa mudança no sentimento popular é o fato de membros das Forças Armadas, incluindo generais, terem sido eleitos em números recordes em 2018. “Militares trazem uma mensagem de comprometimento com a causa pública, de executar bem a missão que receberam”, diz o general Roberto Peternelli, que se elegeu deputado federal por São Paulo em 2018 e coordenou as candidaturas militares na eleição.
Segundo ele, os militares de hoje têm compromisso com a democracia e trazem para o debate político valores que a sociedade prioriza, como disciplina. “Muitas vezes quando se falar de disciplina, sempre se pensa em quartel. Mas a disciplina é o caminho de sucesso para toda a atividade”, afirma ele.
Na última eleição, os militares elegeram seis congressistas, um número que não era visto desde o fim da ditadura. O grande símbolo dessa mudança de sentimento da sociedade, obviamente, é a eleição do próprio Jair Bolsonaro.
Sua trajetória está intimamente relacionada ao Exército brasileiro. Nascido no interior de São Paulo, passou por todas as fases de uma educação ligada às Forças Armadas, incluindo a formatura na prestigiada Academia Militar das Agulhas Negras, a versão brasileira da norte-americana West Point.
No Exército, ascendeu ao posto de capitão e certamente teria chegado mais longe, não fossem dois fatores: sua índole rebelde, que lhe rendeu problemas disciplinares e punições internas, e sua decisão de abandonar a carreira e entrar na política no início da década de 1990.
Elegeu-se vereador pelo Rio de Janeiro e depois deputado federal comportando-se como uma espécie de líder sindical do setor militar, priorizando em sua atuação pautas salariais para os servidores das Forças Armadas.
Durante 28 anos, teve diversos mandatos legislativos, mas nunca se destacou como uma liderança política. À agenda sindical agregou, ao longo dos anos, a defesa veemente de temas conservadores, sempre com retórica combativa. Uma de suas marcas era o discurso da ordem pública, advogando armar a população e até fuzilar bandidos.
Outra era a apologia do regime militar, o que incluía justificar o golpe de 1964 e a repressão brutal a opositores da ditadura. Durante décadas, foi visto como um político menor, uma excrescência folclórica, mas de certa forma inofensiva, sem poder real de ser uma ameaça à democracia.
Ao anunciar sua intenção de se candidatar a presidente da República, em 2016, não foi levado a sério, num cenário semelhante à reação do meio político americano quando Donald Trump colocou-se como postulante à Casa Branca.
A mudança
¿O que ocorreu, então, para uma mudança tão acentuada, em tão pouco tempo?
Estudioso do conservadorismo brasileiro, o cientista político Jorge Zaverucha afirma que Bolsonaro teve a capacidade de unir diversos pensamentos de direita em torno de sua candidatura. “Já tivemos candidatos identificados com a direita, mas nunca alguém que conseguiu se tornar um símbolo como ele, inclusive usando com muita habilidade a bandeira do anticomunismo”, afirmou.
Na opinião do cientista político, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o presidente brasileiro é produto dos tempos atuais. “Ele não poderia ser de outra época. Bolsonaro não caiu do céu. Ele representa uma mudança na política, uma certa reação de partes da sociedade ao avanço da esquerda sobre novas áreas”, diz.
Há razões estruturais e conjunturais para que se criasse um ambiente que possibilitasse a eleição de Bolsonaro no Brasil.
O primeiro motivo, como já dito, é a crise da esquerda, representada sobretudo pelo PT (Partido dos Trabalhadores), que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva (o ex-sindicalista) em 2002 e 2006 e Dilma Rousseff em 2010 e 2014. O partido esteve no centro de diversos escândalos de corrupção, começando com o mensalão, em 2005, que revelou um esquema de financiamento ilegal de partidos aliados ao governo Lula.
Nove anos depois eclodiu a Lava Jato, que mostrou como contratos da Petrobras, gigante estatal de petróleo, eram usados para corromper políticos. O próprio Lula acabou sendo acusado e ficou preso durante um ano e meio. Manifestações populares culminaram com o impeachment de Dilma em 2016, num cenário agravado pela maior recessão já vivida pelo país. Este momento reuniu diversas vertentes do pensamento
de direita numa causa comum. Serviu como o despertar de um conservadorismo adormecido desde os anos 1980.
O presente
Estruturalmente, houve também uma transformação social. Novos grupos adquiriram força política inédita, com destaque para três: ruralistas, evangélicos e armamentistas.
Os evangélicos são talvez a força mais importante para se compreender a mudança na sociedade brasileira. Em menos de 15 anos, mantidas as atuais tendências demográficas, este segmento deve ultrapassar o dos católicos como o mais expressivo na religiosidade do país.
Atualmente, os evangélicos representam cerca de 30% da população, contra 55% dos católicos. Profundamente conservadores e militantes em áreas como defesa da vida e da família, cerca de 70% dos evangélicos apoiam Bolsonaro, índice muito maior que o da população em geral, que se situa na faixa de 40%.
Já os ruralistas representam o setor mais dinâmico da economia brasileira, e o único que seguiu registrando crescimento expressivo mesmo durante a pandemia do coronavírus. Embora a agropecuária responda por apenas 21% da economia nacional, suas lideranças têm influência política crescente, especialmente no Centro-Oeste do país.
Os armamentistas, por sua vez, reúnem militares, policiais e defensores do direito de ter e portar armas. Também advogam leis mais duras contra a criminalidade, e era neste grupo que o próprio Bolsonaro se encaixava antes de ser eleito presidente.
Unidas, estas três bases sociais formam o que ficou conhecida como bancada “BBB” (bala, Bíblia e boi). Sua atuação extrapola os interesses imediatos no campo, na igreja ou nas forças de segurança. Junto, constituem uma formidável linha de frente para reverter políticas identificadas com a esquerda.
Um exemplo, afirma o professor Zaverucha, são as chamadas políticas identitárias, que avançaram nos governos do PT e se traduzindo em ações afirmativas para negros, indígenas, mulheres e membros da comunidade LGBT. Bolsonaro aproveitou a insatisfação de setores importantes da sociedade, que viram seus interesses ameaçados com essas pautas, para oferecer uma alternativa.
O crescimento do conservadorismo, diz o cientista político, é tão expressivo que hoje não se pode mais tratar esse campo de forma homogênea. “Em 2018 se falava na direita. Hoje em dia se fala em várias ‘direitas’”, afirma Zaverucha.
Uma parte dessa direita hoje faz oposição aberta a Bolsonaro. Um exemplo é o movimento Livres, que defende uma agenda liberal, sobretudo a redução do tamanho do Estado e seu poder sobre as decisões dos indivíduos.
No Brasil, o termo liberalismo tem um sentido oposto ao existente nos EUA, em que é associado à esquerda. “Entre os liberais, a vitória do Bolsonaro fez surgir muitas diferenças. Enquanto nosso campo se concentrava na oposição à esquerda, havia uma unidade. Agora há uma divisão grande”, diz Paulo Gontijo, presidente do Livres.
Com gosto pelo autoritarismo e elogios ao regime militar, Bolsonaro rapidamente passou a ser visto como a antítese do pensamento liberal, embora sua equipe econômica seja comandada por um defensor do Estado mínimo, o ministro Paulo Guedes.
No Brasil, país em que o Estado sempre foi visto como provedor de serviços pelos mais pobres, ideias liberais nunca tiveram muita força. Isso aos poucos está mudando, diz Gontijo. “Há uma demanda crescente da sociedade para ideias liberais, justamente em razão da ineficiência do Estado”, afirma.
O futuro
Ao chegar à metade de seu mandato, Bolsonaro inevitavelmente começa a pensar em seu projeto de reeleger-se para mais um período de quatro anos, em 2022.
Neste contexto, duas perguntas interligadas surgem: ¿quais são suas chances eleitorais e, ainda mais importante, qual o futuro para o conservadorismo no Brasil?
Analistas acreditam ser improvável a repetição do fenômeno eleitoral de 2018, que incluiu não apenas a vitória de Bolsonaro, mas também o aumento da presença da direita na Câmara dos Deputados, Senado, governos estaduais e Assembleias Legislativas.
Isso se deve a uma série de razões. A principal delas é o fato de o desgaste da esquerda ter sido, em grande parte, substituído pelo desgaste do próprio Bolsonaro.
Assim como Trump, ele foi criticado pela má gestão na pandemia do coronavírus, minimizando o potencial da doença.
Também teve que lidar com acusações que atingiram em cheio sua família, sobretudo o filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro, do Rio de Janeiro, acusado de um esquema de corrupção da época em que era deputado estadual.
Mais preocupante para o presidente, ele precisou desagradar à sua base fiel de apoiadores e algumas ocasiões, para conseguir governar. Embora tenha sido eleito com o discurso da “nova política”, Bolsonaro percebeu, no segundo ano de mandato, que precisaria fazer concessões a velhos caciques no Congresso Nacional.
A razão, ironicamente, é a posição de fragilidade em que ele próprio se colocou ao flertar com movimentos radicalizados de direita que defendiam o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.
Em mais de uma ocasião, Bolsonaro somou-se a atos que incluíam bandeiras e faixas com mensagens antidemocráticas. Mas agora ele não é apenas um militar rebelde, ou um deputado federal eloquente. É o presidente da República.
Cobrado a se posicionar, e sob a ameaça de sofrer um processo de cassação, fez um recuo estratégico. No Congresso, prestigiou políticos experimentados que já participaram de outros governos. Para o Supremo Tribunal Federal, nomeou um juiz de carreira respeitado, mas sem a pureza ideológica que sua base cobrava.
“Bolsonaro vem de uma vertente autoritária da direita, mas que sabe jogar o jogo democrático. Ele não teve outra alternativa a não ser baixar a fervura. O presidente não tem convicções democráticas, mas sabe agir estrategicamente”, afirma o professor Zaverucha.
Uma dessas ações “estratégicas” empreendidas por Bolsonaro foi um recuo momentâneo em sua agenda econômica liberal, para buscar recuperar parte da popularidade perdida em razão da pandemia. O presidente no começo relutou em criar uma rede de assistência emergencial para proteger trabalhadores, sobretudo informais, que perderam sua fonte de renda durante a crise do coronavírus. Dizia que o custo orçamentário era muito grande, e que equivaleria a aumentar ainda mais o peso do Estado na economia, algo que Bolsonaro sempre prometeu combater.
Convencido por aliados políticos, aceitou que fosse estabelecido um auxílio emergencial no valor mensal de R$ 600, que beneficiou quase 70 milhões de pessoas, ou 35% da população. A ação sustentou a aprovação popular de Bolsonaro em um patamar próximo de 40%, e fez sua popularidade crescer inclusive em antigos redutos da esquerda, como a região Nordeste. Assim como a aliança com políticos tradicionais, a medida deu ao presidente fôlego para chegar ao final de 2020 com alguma força, e sem correr grandes riscos de ser afastado.
Possibilitou, inclusive, que o presidente se sentisse seguro para continuar dando declarações fortes e polêmicas, que escandalizam os meios políticos, mas energizam seus apoiadores.
Essa é uma das razões pelas quais é improvável que a base conservadora abandone Bolsonaro, principalmente por não haver opção mais competitiva do que ele neste campo ideológico para manter a Presidência da República em 2022.
O presidente, além disso, segue cultivando e fazendo agrados aos apoiadores, como a liberação para a venda pesada de armas em São Caetano mostra. “Estou na política e na militância para ajudar o nosso presidente. Quero ser um grãozinho de areia. Porque se não entrarem pessoas boas na política, a corrupção vai passar de pai para a filho. Eu quero acabar com a hegemonia dos bandidos”, diz Falcone, o ativista de São Caetano do Sul, que decidiu se candidatar a vereador.
Bolsonaro certamente será um candidato forte dentro de dois anos à reeleição, até porque sua própria força política é um sintoma de uma sociedade em mutação.
O modelo político que existiu após a aprovação da Constituição está, para todos os efeitos esgotado.
Durante quase 25 anos, baseou-se na alternância de poder entre o PT, um partido de esquerda não-dogmática, e o PSDB, com raízes na social-democracia.
O período deu ao Brasil estabilidade política e macroeconômica, além de modernizar a economia. Também houve pela primeira vez uma preocupação em reduzir os índices de pobreza e desigualdade no país, com a criação de programas sociais como o Bolsa Família.
Mas o crescimento do Estado e o avanço em pautas progressistas do período não levou em conta os valores de uma parcela significativa da sociedade.
O bolsonarismo surgiu nesse contexto e veio para ficar, ainda que em uma versão mais diluída. E deve sobreviver, independentemente da força do próprio Jair Bolsonaro.