Vozes de um só lado

A AMIGA DOS
DISFEMISMOS NA COLÔMBIA

Alejandra de Vengoechea

TEMPO DE LEITURA: 18 MIN

“A diferença entre um Conservador e um Liberal, e essa era a história quando eu era pequena, é que os Liberais iam à missa às 5 am para que não os vissem e os Conservadores iam às 11 am para que todo mundo os visse. Isso é Colômbia”. María Clara Ospina, filha do ex-presidente conservador Mariano Ospina Pérez. É fácil dizer: a Colômbia foi, é e será sempre um país de direita. Em outubro de 2020, para entender a direita na Colômbia, foram entrevistados historiadores, filósofos, analistas, políticos, especialistas em comunicação. O que eles concluíram?

Alejandra de Vengoechea

O que dizem os livros sobre a direita?

A Biblioteca Nacional, em Bogotá, fundada em 1777, é o lugar onde são arquivados todos os livros publicados neste país. Ao consultar a bibliografia disponível sobre a direita na Colômbia apareceu uma única referência: “Direita e esquerda na Colômbia 1920-1936. Estudo dos imaginários políticos”, trabalho de conclusão de curso escrito em 2010 para a Universidade de Medellín pelo historiador Carlos A. Flórez.

O que diz?

As décadas estudadas (1920-1936) foram determinadas por dois acontecimentos centrais: a quebra da hegemonia conservadora em 1930, em plena grande depressão mundial, e a ascensão ao poder do partido liberal. A Igreja foi um importante ator e motor político do programa conservador.[1]

O protagonista incontestável é Laureano Gómez [2]. Suas decisões, orientações e posições transcenderam e marcaram o caminho. Em que se baseou Gómez[3]  para construir sua ideologia?

Em três hipóteses:

  • A sociedade ocidental está em crise por causa do protestantismo religioso.
  • É preciso promover a salvação do homem através de sua adesão à Igreja Católica.
  • É importante a herança cultural produzida pelo império espanhol.

Quais foram então as características com as quais nasceu o conservadorismo colombiano?

Segundo o historiador Javier Ocampo López [4], citado no trabalho de Flórez, as características foram estas:

  • Tradição
  • Experiência histórica
  • A ordem
  • A religião
  • A moral
  • A estabilidade
  • A segurança

O que se encontra na internet sobre a direita?

Na Colômbia, a “esquerda” é geralmente associada à guerrilha e a “direita” ao establishment.. “A estigmatização recíproca é intensa e a possibilidade de se envolver em debates substantivos ou enriquecedores sobre outros assuntos é muito limitada”, diz a cientista política Laura Wills. Laura Wills.   

A política da Colômbia caracterizou-se, ao longo de sua história, por um predominante bipartidarismo; sendo dos poucos países latino-americanos em que o Partido Liberal e o Partido Conservador sobreviveram como agrupações hegemônicas até o século XX e com vigência ainda no século XXI.

Congresso Visível, projeto do Departamento de Ciência Política da Universidade dos Andes para o acompanhamento e análise permanentes do Congresso da República, possui quatro critérios para identificar os partidos: seu apoio ao acordo de paz, suas posições em matéria de política econômica, o que dizem sobre questões sociais (como o aborto ou a defesa LGBTI) e suas alianças com partidos políticos de outros países. Sobre a direita, Alessandro Fava, pesquisador dessa instituição, fez a seguinte análise: “Ambos os partidos – o Partido Conservador e o Centro Democrático – estão na direita do espectro político. No caso do Conservador, é um partido tradicional de direita clássico. Eles estão aliados com a União Democrata de Centro, que reúne movimentos como os Conservadores Britânicos e a União Democrata Cristã, na Alemanha (...) O Centro Democrático é a favor de ideias associadas à direita, como o livre mercado, o apoio a empresas privadas e a redução de impostos. Além disso, foram contra o Acordo de Paz”. 

O que diz a história?

Catalina Muñoz Rojas professora de História na Universidade dos Andes, especialista em história da Colômbia durante o século XX, explica a direita neste jogo de pergunta e resposta:

Em que momento da história da Colômbia oPartido Conservador se vira à direita?

Os partidos que conhecemos, o Liberal e o Conservador, começam a se formar em meados do século XIX. São a mesma classe – homens, brancos, de elite, educados nos mesmos lugares – mas com duas visões da ordem social, principalmente quanto ao papel da Igreja. Os conservadores querem manter uma aliança com a Igreja para manter um Estado social em um país profundamente católico. Os liberais acreditam que um Estado moderno deve ser laico e retiram a Igreja das instâncias de poder e da educação. A questão religiosa está no centro da formação desses dois partidos. Não é uma questão de diferenças socioeconômicas nem regionais. Em meados do século XIX, passamos do liberalismo radical para um giro à direita.

Como?

Durante as Constituições de 1853 e 1863, estão no poder uns liberais muito radicais, inclusive em relação ao mundo. Querem, por exemplo, construir a Colômbia como um Estado secular em que haja liberdade de cultos, liberdade de expressão, em que não exista pena de morte, em que as pessoas possam se casar civilmente. Privilegiam os direitos individuais. Nesse sentido são liberais radicais. Com esses liberais o povo estava muito empoderado: houve a abolição da escravidão, dissolução das reservas indígenas, os negros começam a participar das guerras civis para pedir uma ampliação da liberdade, porque para eles o fim da escravidão não era igualdade. A igualdade, para eles, implicava ter terras e trabalhos. Começaram a pedir mais. As elites se assustaram e recuaram.

Na Constituição de 1886, a Colômbia foi radicalmente conservatizada com uma Constituição que começava dizendo “em nome de Deus fonte de toda autoridade”. Uma Constituição muito centralista. Os liberais voltaram em 1930 com o discurso de que era preciso ampliar a cidadania e o país. A Colômbia começa a ter muito dinheiro, em boa parte pela exportação do café, que está em altíssima demanda. Será uma economia que atrai ricos e pobres. Essa transformação econômica nos transforma totalmente. As cidades crescem, desenvolvem-se. Em 1936, os liberais fazem transformações democratizantes. O presidente Alfonso López Pumarejo, por exemplo, apoia os sindicatos. Mas as classes populares vão se radicalizando à medida que o Partido Liberal não responde a suas necessidades. Forma-se o Partido Socialista, depois Partido Comunista.

Em 1946, voltam os conservadores ao poder com Mariano Ospina. Em 1948, o Bogotazo (o assassinato do líder e candidato liberal populista Jorge Eliécer Gaitán, que possivelmente teria sido eleito presidente) tem um impacto não só na Colômbia, mas na América Latina. Recordemos que estamos em plena Guerra Fria.

Toda a América Latina é contra o comunismo e está com os Estados Unidos. E há uma virada à direita. Dizem que a Guerra Fria foi entre a Rússia e os Estados Unidos. Mas a Guerra Fria aqui na Colômbia não foi fria

Nossos governos, que tendiam à direita, começaram a se associar com os Estados Unidos para reprimir o comunismo na América Latina, o que significa para nós uma fortíssima repressão da mobilização social. Qualquer reinvindicação por justiça social era lida como se o comunismo tivesse entrado no país.

Aí começa a questão de como se passa do conservador à direita. Temos orgulho de ter a democracia mais velha da América. Não é bem assim. Desde 1948, passando pela Frente Nacional e a Constituição de 1991, tivemos um Estado autoritário que limita as liberdades civis sob o pretexto de manter a ordem pública. Este é um Estado que torturou, que se reserva o direito de prender pessoas e matá-las. Isso começa com o assassinato de Jorge Eliécer Gaitán.

O que diz a filosofia?

A filósofa Catalina González, professora do departamento de filosofia da Universidade dos Andes, tem uma versão diferente. Ao ser perguntada sobre a direita a partir da filosofia, diz que a origem histórica do pensamento conservador começa no século XIX, como uma reação à revolução francesa por duas razões. Primeiro, porque é uma revolução. Há muitas vítimas, é muito sangrenta. Segundo, é uma sociedade de estamentos, em que há nobreza, e não se quer renunciar a isso.

Na Colômbia, em particular, há três assuntos – religião, terra e educação – que dividem liberais e conservadores no século XIX. Os conservadores consideram que a religião católica deve ser a oficial e a religião deve, também, encarregar-se da educação dos colombianos porque a Igreja penetrou no território muito mais que o próprio Estado. Os liberais, ao contrário, consideram que a educação deve ser pública e que o Estado é quem deve se encarregar da educação – laica – dos colombianos.

O fundamental é a terra. A instituição mais importante desde a colônia na Colômbia é o latifúndio. Grandes latifundiários, um campesinato pobre, sem títulos de posse da terra. Os grandes proprietários conservadores nunca quiseram a emancipação dos escravos. No século XX, quando começam a surgir os movimentos marxistas, o problema da terra se agrava porque, por essa defesa do campesinato, por essas reivindicações camponesas pela distribuição da terra, muitos movimentos se tornaram guerrilhas. O paradoxo é que, apesar de termos uma Constituição Liberal, a de 1991, ela não se cumpre. Sempre termina imperando o status quo. A Colômbia é conservadora.

A Colômbia é conservadora?

Na mais recente pesquisa Cifras y Conceptos (Outubro 2020), perguntaram aos entrevistados (2.570):

  • Com qual dos seguintes partidos você tem afinidade? 47% responderam não se sentir identificados com nenhum partido, 13% disseram se sentir identificados com o Centro Democrático (direita), 12% com o Colômbia Humana (esquerda) e 7% com o Partido Verde.
  • Em termos de escolaridade, os colombianos entrevistados com estudos universitários tendem a ser mais de esquerda do que de direita. 29% disseram ser de esquerda enquanto 18% de direita. Ganha o centro com 53%.
  • Acontece exatamente o oposto entre os colombianos que só terminaram a escola. Apenas 12% disseram ser de esquerda enquanto 35% se posicionaram à direita; ganhou também o centro com 52%.

Outras informações relevantes da pesquisa:

que os analistas pensam sobre a direita na Colômbia?

O doutor em Ciências Políticas da Pontifícia Universidade Católica da Argentina e professor associado da Universidade da Sabana, Iván Garzón Vallejo[5], explica que a direita é uma posição política que tem certas bandeiras tradicionais que podem ser agrupadas sob a categoria de ordem e autoridade. A novidade desta direita que estamos vendo hoje, mais midiática, é que deixou de ser uma direita acanhada. Não tem vergonha de dizer “defendo a direita, sou de direita”. A direita foi perdendo o medo da sanção social da esquerda e do politicamente correto.

Qual é o discurso da direita? 

O que a direita faz é manter viva a ideia de que sempre há inimigos. O que acontece é que o inimigo é diferente, muda. Como estamos vendo na Europa. O inimigo já não é o comunismo, agora é o migrante. Nesse papel eles têm sido muito mais hábeis em identificar inimigos, que inclusive geram uma rejeição quase instintiva.

Como a direita se comunica?

Steve Bannon, o ex-assessor do presidente Donald Trump, diz que as pessoas gostam que lhes digam as coisas; políticos que digam o que pensam. Como dizia o autor Antonio Scurati falando de Benito Mussolini, esses personagens que nos fazem rir tanto, que são vulgares, bocas soltas, há gente na verdade que se identifica com eles. Bannon diz, além disso, que a direita aprendeu duas coisas com a esquerda: a não ter medo da polarização e a dizer as coisas exatamente como pensam. A direita também descobriu, porque a esquerda já tinha isso, o elemento emocional na política. Percebeu que havia uma mina de outro no apelo aos maus sentimentos: medo, temor, rejeição a certos setores sociais.

Por que meios a direita se comunica?

As redes sociais são grandes aliados porque possuem uma lógica de reforçar as crenças. É muito pouca gente que vemos dispostas a discutir, matizar, aprofundar. O que prevalece é o gregarismo e as redes acentuam o gregarismo. Por isso, a relação com as mídias tradicionais é ineficaz, pois estas tendem a matizar e a mostrar um panorama mais amplo. Um tweet é muito mais eloquente ao transmitir uma emoção, um sentimento, uma mensagem política.

Qual o sucesso da direita na Colômbia?

A capacidade de traduzir em slogans políticos a insatisfação das pessoas com a classe política e com a democracia. A fórmula do castro-chavismo na Colômbia me parece uma obra-prima porque consegue resumir em uma única palavra todos os medos que um colombiano ou um latino-americano podem ter.

Quem são os atores da direita na Colômbia?

Álvaro Uribe Vélez e seu Centro Democrático, Germán Vargas Lleras, Juan Carlos Pinzón, o governo atual. Também incluiria na direita todo o setor do partido Mudança Radical[6].

*****

O cientista político, analista do conflito armado e dos processos de negociação na Colômbia, Álvaro Jiménez [7], nos conta que a direita protege as empresas e o proprietário, é aliada da força pública e é muito fechada às novas questões: aborto, casamento homossexual. São categóricos com relação à questão da preservação da família como um eixo da dinâmica de relacionamento social e da vida. Como símbolo colombiano da direita, afirma terem o melhor comunicador: o ex-presidente Álvaro Uribe. Uribe diz as coisas em uma linguagem clara. Quem o escuta, mesmo que não esteja de acordo com ele, compreende o que ele diz. Uribe sabe que comunicar não é apenas dizer, mas a figura que comunica as coisas. Por isso coloca poncho, chapéu, vai a cada canto deste país, toma um café com as senhoras e pergunta sobre seus filhos.  O sucesso da direita na Colômbia é ter um grande porta-voz, e ter resultados bem-sucedidos na derrota das FARC. Além disso, em geral, a sociedade colombiana tem medo da mudança. As pessoas não gostam de incerteza. Elas gostam de certeza.

*****

O professor do departamento de Governo e Ciências Políticas da Universidade EAFIT de Medellín. Gustavo Duncan[8] explica que na Colômbia já não existem dois partidos: liberal e conservador. Há coletividades políticas sob a sombra de algum líder e, neste caso, um líder extremamente carismático como o ex-presidente Álvaro Uribe. Nele se visualiza a direita. A direita não é um partido, é uma pessoa. Agora, porém, Uribe está em uma situação complicada. As pessoas o estão vendo de forma muito negativa..

O que os da direita dizem sobre a direita?

A senadora do Centro Democrático Paola Holguín [9], diz que a direita na Colômbia quer equidade, menos pobreza, que haja paz e desenvolvimento. A diferença entre esquerda e direita não é o fim. É a forma de fazer as coisas.  A segurança é importante para a esquerda e para a direita. Mas o estigma que existe hoje é que a segurança é só uma questão da direita e militarista. Acredito que a diferença de fundo é que a esquerda sempre fala sobre as causas objetivas da violência, como a pobreza, enquanto a direita entende que há múltiplas causas da violência, não apenas a pobreza. Enquanto para a esquerda a solução para a violência é que haja mais equidade, para a direita, a segurança é um meio para conseguir maior equidade. A direita entende a segurança como um valor democrático, como um direito humano, como um bem público que deve ser garantido a partir da prevenção, controle e reabilitação e a esquerda se concentra sobretudo na prevenção.

A esquerda é muito mais liberal, Por exemplo, dentro da agenda da esquerda se diz que o aborto é um direito da mulher, é um direito sobre seu próprio corpo. Nós que somos de direita dizemos que assassinar um bebê no ventre da mãe não é um direito.

No âmbito religioso, a esquerda sataniza a religião, já que eles acreditam que um Estado laico é o mesmo que um Estado ateu. Para a direita não.  Para a direita, Estado laico significa que há uma clara divisão entre a Igreja e o Estado, mas há liberdade de cultos. O Estado laico não é sinônimo de Estado ateu, mas sim que se deve respeitar a liberdade de cultos.

Na esfera econômica para a esquerda é preciso que o Estado intervenha em quase tudo. Para a direita, o Estado deve se concentrar na justiça, na força, no monopólio da força e na cobrança dos impostos. O Estado é mais um árbitro. Outra diferença: para a esquerda o problema da pobreza se soluciona com subsídios. A direita acredita que a melhor política social é a geração de empregos de qualidade, que embora seja preciso entregar alguns subsídios ao mais vulnerável, não se pode subsidiar tudo porque há o risco de gerar um incentivo perverso que faz com que as pessoas não queiram trabalhar.

Como a direita se comunica?

A esquerda foi muito inteligente porque conseguiu uma penetração cultural: chegou muito através da música, da arte, do teatro e com um discurso que é bastante emotivo e que atinge as pessoas. A direita permaneceu em um discurso muito racional e frio. Acredito, contudo, que há setores da direita como Donald Trump e Jair Bolsonaro que não são mais vergonhosos. Ninguém se atrevia a dizer que era de direita. Eles tinham vergonha. A esquerda criou em nosso imaginário que ser de direita era ser paramilitar de motosserra na Colômbia. As pessoas têm vergonha de dizer que são de direita. Como perdemos o medo de dizer “sou de direita”? Pensando no seguinte: a esquerda é cada vez mais radical. Se não existir uma direita, desaparece a possibilidade de uma contraparte.

Que meios usam para se comunicar? As redes se tornaram um meio para desqualificar, insultar e ridicularizar. Não para fazer um debate de fundo sobre um tema que é filosófico, profundo, em relação ao Estado. As redes são importantes, mas essa não é a vida real. O que a direita faz é aplicar os três S: Sola, Saída e Saudação. O nosso lance está na rua..

*****

O cientista político, uribista puro-sangue e ex-colunista relacionado com os paramilitares Ernesto Yamhure [10] afirma que a direita não é uma ideologia, é ser conservador, acreditar nas ideias conservadoras e o elemento religioso é fundamental. Não da perspectiva teológica, mas em termos morais. No momento em que você perde o medo de Deus, você passa à animalidade e perde as perspectivas e os limites. No final do dia, por razões práticas, ser conservador é uma corrente de pensamento que está muito mais sintonizada com a vida cotidiana. Do que as pessoas precisam? Que seu trabalho seja estável, que sua renda seja suficiente para cobrir suas necessidades básicas, que tenha uma capacidade de poupança e, obviamente, que possa se aposentar quando não for produtivo. Ampliando um pouco o espectro, minha segurança, meu acesso à justiça quando for necessário e um mundo de oportunidades. O resto é puro discurso romântico que os jovens adoram porque ainda não tiveram que enfrentar a vida. Ser conservador é mais pragmático: baseia-se no senso comum.

*****

O senador colombiano e ideólogo do partido de direita Centro Democrático José Obdulio Gaviria afirma que o discurso da direita está se remodelando. Estava moldado em 2002 por uma situação encontrada pelo presidente (Álvaro) Uribe que é o Estado falido, como definiu a revista Foreign Policy. A recuperação através do discurso da liberdade econômica, muita atração de investimento estrangeiro, muita concentração no investimento de obra pública, todos esses fatores estavam unidos a um firme exercício de autoridade. Hoje esse discurso está órfão, não apenas na Colômbia, mas em vários países.  La Neo Inquisición, o último livro de Axel Kaiser, resume muito bem o que nós, democratas liberais, estamos pensando na América Latina: um tipo de pensamento liberal, moderno, alheio ao dogmatismo e ao “buenismo” da esquerda na questão intelectual, poderia ser a escola que consolide o novo discurso da direita latino-americana.

Uma última – e diferente – ideia sobre a direita

A historiadora Catalina Muñoz comenta que “a Direita foi pouco estudada e isso aconteceu porque a academia é mais de esquerda. É uma dívida que temos e por isso nos custa explicá-la, porque não a conhecemos tão bem quanto o outro lado.

No entanto, há alguém que a está estudando: Ricardo López”. Em entrevista telefônica com Ricardo López[11], doutor em História Latino-americana da Universidade de Maryland, tiramos algumas conclusões sobre o estudo que ele está fazendo.

- A direita está mimetizada, sã e salva entre a grande classe média. O que tento demonstrar é se os grupos populares, as classes trabalhadoras, participaram desse projeto de direita. Concluo que sim. Exemplo? A chamada ideologia de gênero. Esse é um projeto de direita. Por quê? Busca fazer com que as relações de gênero sejam “naturais”, que se torne uma noção de família patriarcal, em que a mulher deve ficar em casa e o homem sair para trabalhar. Esse é um projeto de direita que vai muito além de um partido político.

- Uma das coisas que mostro em meus estudos é que esse projeto de direita não necessariamente coincide com partidos políticos. O exemplo que acabo de dar não corresponde a um partido político. Depois dos anos noventa é quando vejo que há uma consolidação fortíssima do projeto de direita com a paramilitarização da sociedade e são essas ideias que vão triunfar sobre como devemos organizar a sociedade. É nesses anos, com o aspecto da violência que não podemos deixar de lado, que os projetos de direita, no sentido cultural e político, vão triunfar.

-Entendemos o paramilitarismo apenas como um projeto militar. Mas o que eu chamo de paramilitarização da sociedade é esse projeto de direita muito mais amplo que penetra na sociedade, principalmente urbana, com esse medo da violência e permeia as classes médias e as classes populares.

-Carlos Castaño, em alguma entrevista, dizia que o projeto paramilitar não era apenas de direita, mas de classes médias. Os grupos paramilitares não são só um projeto de elite e de direita que querem impor, mas existe um enraizamento social tão forte na Colômbia de erradicar o outro, aquele que pensa diferente, e isso é o que eu chamo de paramilitarização da sociedade, que vai muito além desse projeto de elite.

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[1] Si se quisiera ampliar más sobre el peso de la religión en la política colombiana, dos libros recomendados: “De la derecha a la izquierda” de  Rosa Michael y la tesis de grado  “La Iglesia católica ante los conflictos políticos en los años 1930-1957” de Iván Arias.

[2] Laureano Gómez (Bogotá, 1889-1965), presidente de la Colombia (1950-1951). Caudillo conservador, fue una de las figuras más polémicas de la historia, ferviente seguidor de la escuela neotomista. Ingeniero civil, fundó el diario La Unidad, de tendencia católica y conservadora.

[3] James D. Henderson, “Las ideas de Laureano Gómez”.

[4] “Qué es el conservatismo colombiano”, Javier Ocampo López.

[5] Colaborador frecuente del diario El Espectador. Importante leer este documento sobre Izquierda y Derecha, de su autoría 

[6] Los entrevistados para esta radiografía también ven como protagonistas de la Derecha a buena parte del Partido Verde, muy conservadores, buena parte de los miembros de las FF.AA., las Iglesias cristianas son organizaciones de derecha con expresión política, al ex alcalde de Medellín Federico Gutiérrez, el clan Char de Barranquilla, Dilian Francisca Toro, ex gobernadora del Valle del Cauca. “En la Derecha están las élites rurales que son quienes financian el paramilitarismo, las élites urbanas, como los grupos económicos. También están las élites que viven del narcotráfico y una parte de Iglesia con su proyecto social y cultural. Finalmente la sociedad que, como tal, ha participado como justificación y legitimización de la derecha”. Ricardo López.

[7] Álvaro Jiménez Millán es coordinador de la campaña Colombiana contra Minas y miembro de la mesa de Gobierno de la campaña internacional para la prohibición de minas antipersonal. Es miembro fundador del SEHLAC, grupo de trabajo sobre seguridad humana en Latinoamérica y el Caribe.

[8]  Doctor en Ciencias Políticas de la Universidad de Northwestern. Autor de “Más que plata o plomo” y “Los señores de la guerra”.

[9] Fue asesora de la Presidencia de la República de Colombia, durante el Gobierno del ex presidente Álvaro Uribe Vélez. Escribió la biografía del ex presidente Uribe, titulada “Uribe de carne y Hueso” de editorial Norma y fue la compiladora del texto “Del escritorio del Presidente”

[10] Vive en Estados Unidos después de que se le relacionara con el paramilitar Carlos Castaño.

[11] Ricardo López Pedreros, historiador de la Universidad Nacional, magíster en Historia y Estudios Latinoamericanos del Instituto Politécnico y Universidad Estatal de Virginia, y doctor en Historia Latinoamérica de la Universidad de Maryland. Su libro Makers of Democracy: A Transnational History of the Middle Classes in Colombia, examina por qué y cómo la clase media llegó a ser un criterio principal de democracia durante la segunda mitad del siglo XX.

KIT SOBRE COMUNICAÇÃO DA DIREITA NA COLÔMBIA

Uma grande ferramenta da direita é usar o medo. Gerar medo diante da mudança, daquele que não pensa como eu, de quem é diferente, de quem não age como eu, de quem não faz as coisas como eu. Vários estudos em comunicação política mostram como o medo é um elemento que ativa muito mais do que a esperança.

En afirmaciones cortas tanto derecha como izquierda apelan a las emociones de las personas. Afirmaciones simples que mueven a la gente. La izquierda es muy amiga de los eufemismos. La derecha es amiga de los disfemismos, de exagerar. Por ejemplo: en Colombia no hay “conflicto armado” sino “amenaza terrorista”. O “en combate fueron abatidos tres guerrilleros, asesinados tres soldados” cuando lo correcto debería ser “murieron en combate tres guerrilleros y tres soldados”. ¿Más ejemplos? “Interrupción voluntaria del embarazo” en vez de aborto o “opción sexual alternativa” en vez de homosexualidad.

O líder machista, duro, sem papas na língua, não importa que seus princípios e valores sejam questionáveis, ele é visto como mais próximo da verdade. Os colombianos gostam de capataz, aquele que os comanda.

A deslegitimação das mídias profissionais faz parte da estrutura de comunicação da direita, porque os jornalistas invalidam sua estratégia do medo e do confronto. As redes são um elemento muito poderoso para propagar o medo. As redes formam essas bolhas em que há cada vez mais gente que pensa igual. Por isso é que o ex-presidente Álvaro Uribe teve tanta força no Twitter: permite que ele não seja controlado nem interrogado por ninguém em seu discurso. Não há um jornalista na frente para interrogá-lo. Por isso Donald Trump trina 100 vezes por dia, não importa que os jornalistas profissionais demonstrem que está dizendo mentiras. Porque isso alcançou 72 milhões de fanáticos, chega à sua base e isso as vai radicalizando. A base se torna como uma cruzada. O populismo radical de esquerda faz o mesmo, por isso é que os extremos se parecem tanto. É o centro que fica em desvantagem diante dessas ferramentas e desses recursos, porque não os tem.

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