O CONTEXTO DE UMA EXTREMA-DIREITA INTERNACIONAL
Omar Rincón
TIEMPO DE LECTURA: 4MIN´
Professor associado na Universidade dos Andes e Director da FES Comunicación, o programa de comunicação e meios de comunicação da Universidade dos Andes. Friedrich- Ebert- Stiftung para a América Latina e as Caraíbas.
.
omar.rincon@fescol.org.co
El contexto de una ultraderecha internacional
OMAR RINCÓN
TEMPO DE LEITURA: 4MIN
A ultradireita como fenômeno global é aquela que perdeu o pudor de se dizer autoritária e militarista e que se organiza em nome de deus, da pátria e da família para lutar contra a agenda dos direitos, dos feminismos, dos corpos diversos e dessa falácia do aquecimento global. Mas, por sua vez, as ultradireitas são fenômenos nacionais que respondem a certos modos da história e da cultura política de cada país. Por essa razão, este especial jornalístico investiga a direita em seis países da América Latina (Chile, Argentina, Brasil, Colômbia, República Dominicana, México). Não se trata de um ensaio político nem acadêmico, mas está baseado em reportagens feitas com figuras que são referências da direita e analistas políticos da região. Muito material de reportagem para fazer uma radiografia das direitas da América Latina e de como elas fazem política.
Jornalistas:
Macarena Segovia, Werner Pertot, Fábio Zanini, Alejandra de Vengoechea, Tania Molina, Paty Godoy
Editor: Omar Rincón
Cass Mudde, professor na Escola de Assuntos Públicos e Internacionais da Universidade da Geórgia e autor The far right today diz que “o fenômeno das extremas direitas não pode ser analisado apenas de forma global, mas é preciso, necessariamente, recorrer ao que é específico de cada país” porque a ultradireita de um país não é a mesma que a do outro.
Na América Latina, para além das especificidades de cada país, a direita se transformou em um movimento da classe média e das elites rurais que, diante da precariedade, querem conservar seus privilégios; o inimigo diabólico a temer é Maduro e o chavismo venezuelano; a agenda política está marcada pelo medo: medo da criminalidade e da imigração.
Steve Bannono assessor político e comunicacional de Trump e da direita internacional, afirmava em 2018 que “o mundo se verá obrigado a escolher entre duas formas de populismo: o de direita ou o de esquerda. O centro está desaparecendo, isso é um fato”, e assumia que tanto Trump quanto Bolsonaro encarnavam uma revolta contra as elites globalistas, um movimento soberanista que dá “voz às pessoas”, “revaloriza o conceito de cidadania” e que, por isso, “não importa sua raça, religião, gênero, preferência sexual nem nada disso. O que importa é a cidadania”. Nesse populismo de direta trata-se de tornar a todos capitalistas, de tornar possível “um capitalismo para todos”.
Bannon diz que as bandeiras que os guiam são o nacionalismo econômico, o individualismo (a liberdade individual), a segurança nacional, o desmonte do Estado administrativo burocrático, acabar com o capitalismo de camaradagem e conseguir que “a classe trabalhadora” tenha algo a dizer. E conclui que “o que os trabalhadores querem é um dia de pagamento honesto para um dia de trabalho honesto, não querem que o mundo concorra com eles por seu trabalho”.
O analista político e internacionalista uruguaio Álvaro Padrón sugere que existe uma ultradireita internacional que articula, coordena e financia na América Latina. E que parte do seu sucesso é assumir que chamar de ultradireita não é uma palavra que apenas “os bons” usam enquanto reivindicam sem pudor o inaceitável: a ditadura, a tortura e ir com tudo contra a agenda de direitos, os feminismos, as sexualidades diversas e o aquecimento global. Argumenta ainda que a ultradireita ganha votos ao utilizar uma fakepolitics cheia de mentiras demagógicas apresentando-se como os inimigos das elites (quando seus políticos vêm e são das elites) ou como nacionalistas contra a globalização ao mesmo tempo em que promovem o capitalismo financeiro e de plataformas. fakepolitics llena de mentiras demagógicas como que son los enemigos de las élites (cuando sus políticos vienen y son de las élites) o que son nacionalistas contra la globalización mientras promueven el capitalismo financiero y de plataformas.
O discurso comum cria um cânone:
*Primeiro a pátria;
*Deus acima de tudo;
*A família tradicional melhor que o Estado;
*Um novo inimigo: comunistas, mulheres e os direitos humanos;
*Superioridade moral: dizem que não há esquerda nem direita, apenas bons e maus, e eles são os bons.
A estratégia política e comunicacional segue um mesmo padrão:
*Polarizam os debates em torno do medo e do ódio; vitimização perante o legislativo, a justiça, a mídia e os movimentos feministas e de direitos humanos.
*Entrelaçam e confundem tudo: dizem o que soa bem para o espetáculo para depois fazer o contrário em moradia, saúde, educação, emprego; usam o discurso para não fazer.
*Sua agenda moral obriga a todos a falar sempre deles e em seus termos.
*Não discutem os fatos: acusam quem os questiona, levam o debate para como eles são bons humanos.
*Criam um cinismo das pessoas de bem que riem dos progressistas, dos direitos humanos e das lutas feministas e ambientais.
*Usam as redes digitais para viralizar sem jornalismo nem crítica.
*Os meios de comunicação como atores políticos (a oposição ou os militantes).
*Estética precária e simples (usam bem os memes).
Esse é o contexto de uma ultradireita internacional plenamente consciente de sua luta e de seu poder eleitoral e de desestabilização da democracia como fundamento dos direitos e das liberdades que havíamos conquistado no século XX.
A continuación, quienes nos lean podrán ver cómo es la derecha en seis países en los que hicimos este estudio. Seis periodistas, seis estilos, seis culturas políticas. Al final de cada texto podrán encontrar el kit que define la derecha en cada país.
Bannon diz que as bandeiras que os guiam são o nacionalismo econômico, o individualismo (a liberdade individual), a segurança nacional, o desmonte do Estado administrativo burocrático, acabar com o capitalismo de camaradagem e conseguir que “a classe trabalhadora” tenha algo a dizer. E conclui que “o que os trabalhadores querem é um dia de pagamento honesto para um dia de trabalho honesto, não querem que o mundo concorra com eles por seu trabalho”.
O analista político e internacionalista uruguaio Álvaro Padrón sugere que existe uma ultradireita internacional que articula, coordena e financia na América Latina. E que parte do seu sucesso é assumir que chamar de ultradireita não é uma palavra que apenas “os bons” usam enquanto reivindicam sem pudor o inaceitável: a ditadura, a tortura e ir com tudo contra a agenda de direitos, os feminismos, as sexualidades diversas e o aquecimento global. Argumenta ainda que a ultradireita ganha votos ao utilizar uma fakepolitics cheia de mentiras demagógicas apresentando-se como os inimigos das elites (quando seus políticos vêm e são das elites) ou como nacionalistas contra a globalização ao mesmo tempo em que promovem o capitalismo financeiro e de plataformas. fakepolitics llena de mentiras demagógicas como que son los enemigos de las élites (cuando sus políticos vienen y son de las élites) o que son nacionalistas contra la globalización mientras promueven el capitalismo financiero y de plataformas.
O discurso comum cria um cânone:
*Primeiro a pátria;
*Deus acima de tudo;
*A família tradicional melhor que o Estado;
*Um novo inimigo: comunistas, mulheres e os direitos humanos;
*Superioridade moral: dizem que não há esquerda nem direita, apenas bons e maus, e eles são os bons.
A estratégia política e comunicacional segue um mesmo padrão:
*Polarizam os debates em torno do medo e do ódio; vitimização perante o legislativo, a justiça, a mídia e os movimentos feministas e de direitos humanos.
*Entrelaçam e confundem tudo: dizem o que soa bem para o espetáculo para depois fazer o contrário em moradia, saúde, educação, emprego; usam o discurso para não fazer.
*Sua agenda moral obriga a todos a falar sempre deles e em seus termos.
*Não discutem os fatos: acusam quem os questiona, levam o debate para como eles são bons humanos.
*Criam um cinismo das pessoas de bem que riem dos progressistas, dos direitos humanos e das lutas feministas e ambientais.
*Usam as redes digitais para viralizar sem jornalismo nem crítica.
*Os meios de comunicação como atores políticos (a oposição ou os militantes).
*Estética precária e simples (usam bem os memes).
Esse é o contexto de uma ultradireita internacional plenamente consciente de sua luta e de seu poder eleitoral e de desestabilização da democracia como fundamento dos direitos e das liberdades que havíamos conquistado no século XX.
A seguir, aqueles que nos lerem poderão ver como é a direita em seis países nos quais fizemos este estudo. Seis jornalistas, seis estilos, seis culturas políticas. Ao final de cada texto, poderão encontrar o kit que define a direita em cada país.